terça-feira, 18 de outubro de 2011

...sónãosei...

aprendi a nadar
antes de andar
aprendi o som
antes de ouvir
aprendi a chupar
antes de mamar
aprendi a sentir
antes de amar
só não sei se aprendi
antes de saber
ou se soube
antes de aprender
ou se aprendi pra saber
ou se soube pra aprender

domingo, 4 de setembro de 2011

todas

a mulher como adendo

ardendo mordendo carioca

adoro adorno-a inteira de norte a sul

arteira parceira maneira mineira

putanheira na porta me aperta

na parte que pulsa de leste a oeste

na banheira com sanha baiana

sacana passista parteira

porta bandeira mamadeira

guardiã do caminho do leite

cabra cobra cachorra vaca

que come nutre aguenta no centro aumenta e puta que pariu!

sábado, 27 de agosto de 2011

sex (agenário)



quem tem 60

tem 30 que já

não tem mais 30

e tudo mais

que os 30 a mais

põe a menos

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

gaiola do louco




conheci o peso morto

da morte que viola a ordem
é descomunal!

pior que a morte em si

é morrer em vida

e ter que ressuscitar

da própria existência

e prosseguir suportando

a lucidez crua e vulgar
do dia dia...



não sei como fiz mas eu fiz

aliás algo em mim o fez por mim

quinta-feira, 21 de julho de 2011


meio dia melodia à capela
peladinha no espelho da harmonia
molhadinha pela nota dominante
reverbera pelo pinho do instrumento
se resvala pelos dedos que lhe tocam
invade o coração do tocador
que explode emocionado outra canção...

domingo, 3 de julho de 2011


seu sorriso seu olhar
meu olhar meu sorriso
seu sorriso meu olhar
meu olhar seu sorriso
eu me olho em seu sorriso
tu me molhas em seu olhar
se eu olhar em seu sorriso
meu sorriso vem te olhar

domingo, 12 de junho de 2011

chamuscado


rastro da lua no mar: prata
lastro da noite em mim: preto
lascívia à flor da pele: puta
teta xota coxa sinto que já tô pronto
pra me recolher ao teu manto
cara boca bunda pele de veludo e seda
beijo lambo chupo mordo aliso
linho do céu aparto entro aperto tinjo
pinto aquarela ralo relo rola regada
rio grito rolo e rua ripa na chulipa!
lapa solo saia curta chama das velas gregas
fêmea forma fama samba sopa pinga
sina sanha fogo leve cão sem dono
rua do catete gente pra cacete
sono casa cama durmo...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

manto




....quando penso em você
não penso em você
penso na sua dimensão
e na nossa profundidade
e elas aumentam
enquanto o tempo passa
tanto que quando estou por perto
você me identifica
abre a porta e eu aporto
no aperto do seu abraço
sua natureza nutril
e a minha servil
nos alimentam...

domingo, 8 de maio de 2011

cantata para um burro cósmico

não saberia o que sei sem viver o que vivo
simplesmente não dá!
a vida não é de hoje nem de ontem
ela vem de tão longe
que não se sabe sua origem
nem pra onde ela vai
sei que só se pode (re)tornar ao ser
quem sempre existiu...
sei também que sabedoria após o fato consumado
é burrice camuflada de esclarecimento
!e tem gente que se acha...
então já vim burro
estou burro e vou burro até o fim
a vida tá na cara a vida é na cara a vida dá na cara eu só encaro
mesmo que não queira ou não saiba depois me curo lambendo as feridas
!santa animalidade!
o vazio que o alívio traz vem cheio de leveza e ansiedade produtiva
isso me dá vontade de tomar uma água de coco à beira da praia...
não tem saída!
como disse uma linda mulher do norte que zel(i)a por mim:"levando no lombo"
então tá!
vivo o que vivo sobrevivo e canto a história:
..."parte de mim manifesta um todo que um dia fui mas que diluiu
partiu pra poder voltar rever o mar e distinguir e beijar meus pais..."


...e também o encanto das mulheres pois não sou de ferro
...

sábado, 30 de abril de 2011

bebeconforto

às vezes me sinto tão novo e tão imaturo
que parece que ainda não nasci
mas continuo aqui
e a sensação de desamparo aumenta
na medida em que cresço...
viver é sofrer!
a diferença tá na maneira em que
alguns escolhem levar a carga
não há aquele que não sinta
o peso do vazio da existência
não tem como não se morrer um pouco quando alguém seu se vai
é do adulto carregar a criança
mas até ela se torna pesada a cada passada
é o adeus à inocência
o contrato das almas é feito na inconsciência
mas o distrato é feito na vigília
é aí que mora o desastre
tenho plena certeza que nem eu nem você
e ninguém precisa passar por isso que estamos passando
mas estamos passando
é o descaso do acaso que faz com que
nesse momento esteja tudo uma merda!
não sei como a providência opera os dados
pra que as coisas aconteçam ou não
a nosso favor ou contra mas aconteceu
vai passar eu sei
mas até lá vamos amargar uma espera desesperada inesperada
é a vida nos tomando e fazendo o que bem entende com a gente
só nos resta aceitar os fatos deixar rolar
e a esperteza pra nos desviar das lambidas
do fogo do inferno em que estamos
inveja é querer ter o que é do outro
sem pagar o preço
não é o meu caso
sou esclarecido o suficiente pra saber
que essa é uma maneira preguiçosa e velha de sofrer
então não me resta nenhuma muleta conceitual
em que me apoiar a não ser na minha
boa e surrada forma de dizer foda-se pro destino
e manter a fé no futuro mesmo que incerto
isso aumenta a certeza da sensação de solidão no caminho mas eu vou...
tô indignado triste só e muito puto mas eu vou!

terça-feira, 19 de abril de 2011

eco(lógico)

...o eco do grito
no oco da gruta

escapa na greta

pra'lém da escarpa

força que fuça
e arrota valente
na grota ingrata
que abre uma fossa
no escuro da farsa

e brota uma gota

que força uma rota
nem reta nem torta
que gera um jorro
espatifa o jarro

que espanta os ratos

que roem a roupa de rita

que de tão irritada

grita grita grita

até que o eco do grito no oco da gruta
escape grato na greta
pra'lém da escarpa como hálito/bafo do seu desabafo...

terça-feira, 5 de abril de 2011





a consciência secreta

que zela por nós

só se revela quando
a chama da vela

que nos ilumina se apaga


...a dor do fim
deve
ser proporcional

à felicidade do início

só assim o meio se justifica

domingo, 27 de março de 2011

ritual de passagem

quando deixares
de sentir
a proximidade
da parte
do que é possível
entre um homem e uma mulher
pare sente-se reflita chore
se despeça da juventude e seus encantos

dos amores e suas promessas
levante-se ligue o foda-se

sacuda a poeira e dê a volta por cima
...

domingo, 13 de março de 2011

...condenado...

...eu me destino
me interno

me confino
me uterizo

me obrigo

me obstino

me condeno

me encurralo

me enclausuro
me encasulo
não me dou alternativa
meu Deus tem o tamanho
do meu assombro
meu Diabo o do meu tormento
não me dou outra saída
eu me encasulo
me enclausuro
me encurralo
me condeno me obstino me obrigo me uterizo
me confino
me interno é meu destino...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

teoria das brechas

percebo a mulher como um conjunto de orifícios
gostosos gozosos angustiantes concretos e abstratos
cada beijo cada abraço cada intercurso interfemural
me soa como um retorno para uma caverna
de onde nunca saí e que na verdade - oxalá- permaneço lá...
vir por ela pra existência é cair noutro buraco tão imenso
do qual não nos damos conta de suas dimensões
a ausência que advém dessa expulsão
vai e vem como uma contração
que se mostra como a sensação de que ocupamos
um espaço provisório no átrio de uma existência sem sentido
onde falta o material original que o conteria
e o absurdo se consolida quando nossa memória inconsciente
não nos deixa esquecê-lo por completo
na medida em que seguimos tentando preenchê-lo
com os punhadinhos de nossas conquistas
um montinho aqui outro ali mais um lá
até que invariavelmente a maior das contra(ações) nos sufoca
nos convoca ao bendito (?) retorno e deixa a lição
de que a vida no corpo físico é uma parcela pequena
do total da existência de uma pessoa...
do túmulo do útero
ao útero do túmulo
aqui jaz um guru feliz!
esse será meu epitáfio
se algum dia eu morrer



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

...hermas...

toda manhã logo após acordar tomo uma nova decisão
de aceitar a possibilidade da morte pelo simples fato de estar vivo
! se ela vier que seja como a do meu filho rápida e INDOLOR !
e sigo a vigília feliz realizando...
à noite antes de dormir agradeço por ter sobrevivido
mais um dia da minha existência
mas ainda assim não me iludo com os perigos que rondam minha madrugada
entrego o corpo e o espírito aos cuidados dos guardiões de morfeu
sentindo o cansaço imenso de um pecador aspirando o sono profundo de um santo
suspiro profundo debaixo do manto e sou levado pro limbo no lombo da cegonha
a mesma que me trouxe no bico aninhado
na mesma mortalha com a qual eu me cubro
então me descubro brincando de cabra-cega
com os que foram e com os que ainda não vieram
e mesmo com os olhos vendados continuo vendo à frente atrás e ambos os lados
é um mundo absurdo de beleza e treva
onde eu pendurado pendulo de cá pra lá de lá pra cá
e de repente num solavanco da corda
acordo com a buzina do padeiro
e o pandeiro de jackson botando bebop no meu samba...
não tenho problemas com a morte e sim com a dor
não tenho problemas com a perda e sim com a dor
sou homem o princípio ativo sensível e elaborado da natureza humana
sou pelo princípio do prazer
não fui projetado pra conviver com a dor







hoje acordei
me sentindo
uma árvore gigante
que perdeu um galho importante
em seu layout
e na dinâmica do seu porte
uma parte de mim morreu
mas sobreviverei

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

...cupido...

minha escrita é reta como seta
que aponta fálica tipo faca
para o alvo de tua alva alma
onde almejo o beijo fatal
alvejarei a uva e a cereja
que se aninham ali na linha
equidistante entre o antes e o durante
na rota do teu agora
me agrada esse cortejo
sei que ele te excita
isso facilita e melhora a precisão da mira
por onde miro e cobiço tua amora
atesto que meu texto te seduz
esta é minha intenção
porque senão onde residiria
qualquer outra função à poesia?
o poeta é um chacal que pelo verso se traveste de cordeiro
e acredita piamente que o seja mas se trai em cada frase
que não é mais que uma espreita na espera do avanço
no intento do abate sem embate traiçoeiro e fatal
 
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